sábado, 6 de junho de 2009

Carta das Crianças dirigida aos adultos

Porque o Dia Mundial da Criança deve ser vivido todos os dias, aqui vos deixo este texto que tive o prazer de ler na Biblioteca Municipal de Silves (Algarve).

Sei que o texto é muito extenso, mas acreditem vale a pena lê-lo na integra.


Queremos agradecer-te por nos recordares no dia mundial da criança. Mas hoje queremos mais. Queremos que nos recordes em todos os outros dias, queremos agradecer-te, particularmente, por nos recordares entre amigos e compreenderes as nossas necessidades. Lembra-te que nos prometeste que não nos recordarias apenas nesse dia. Lembra-te que nos prometeste que não nos recordarias apenas com promessas vagas e tranquilizantes para ti e para nós. Queremos aproveitar também para te dizer que não deves só ficar comovido com a realidade da guerra, da fome, da injustiça e de outras carências que nos afectam. Não queremos que fiques só comovido, queremos e exigimos que prepares para nós um mundo muito melhor, um mundo sadio onde não haja guerras nem fome, onde todos tenham direito a uma escola capaz de fazer de nós os futuros homens e mulheres. Onde nunca nos seja recusado o amor, a ternura e a compreensão que as nossas maldades inocentes acabam por merecer. Não queremos que passes tanto tempo a desejar coisas que poderias ter se não passasses tanto tempo a desejá-las. Se não podes realizar grandes coisas, podes pelo menos fazer pequenas coisas com grandeza. E sobretudo educa-nos pelo exemplo! Não derrames apenas as tuas lágrimas quando ouves falar de todos os nossos amigos famintos, que sofrem neste mundo. Exigimos que promovas a distribuição equilibrada das riquezas que vais acumulando. Exigimos que saibas que ninguém é demasiado grande para fazer trabalhos pequenos, é talvez demasiado pequeno para fazer grandes trabalhos. Exigimos que te indignes perante todas injustiças que fazem contra nós, mas não deves só gritar: trabalha pela justiça! Quando re pedirem para dizeres o que pensas disto ou daquilo, antes de responderes pensa em nós. Ainda não produzimos aquilo que comemos, nem damos muito valor ao sacríficio que fazes para nos dares algum conforto; mas temos dois braços fortes que te apertam quando regressas a casa cansado do trabalho. Temos uns olhos lindos e muito abertos que te olham e te ajudam a prolongar os teus horizontes e refrescar as tuas ideias. Não nos abandones! Como nós já precisaste de segurança, de amor, de paz e de alegria para projectares o teu futuro. Não nos negues as coisas, sempre com o pretexto falso de que ainda não chegou o tempo. É sempre preciso amor para compreenderes o que difere de ti. Não te tornes demasiado amargo só porque somos brincalhões. Aprende a pagar o mal com o bem, porque o amor é vitorioso no ataque e invulnerável na defesa. Tens que ter muita coragem: porque a coragem significa um forte desejo de viver que toma a forma de disposição para morrer. Não ignores que crescemos aos teus olhos e que não dás por isso, como queres adiar o que se torna urgente? Lembra-te que uma ave deve voar, mesmo que o céu esteja cheio de abutres. Somos agora traquinas, não te esqueças que também já foste como nós. Não temos culpa do teu insucesso, não temos culpa do amargo da tua vida, nem dessas maldades todas que fizeram contra ti, e de que este mundo está cheio. Queriamos ver-te contente e brincalhão como nós. Corrige-nos quando errarmos, não nos exijas que sejamos perfeitos. Queridos adultos aqui deixamos, renovada a certeza de sermos cada vez mais a força da tua fraqueza, a esperança no teu desespero, a luz nas tuas sombras.

Luís Santa

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